Technology Management in the Global Economy - BUS620 - 4.2

Gerenciamento ágil de projetos

Conteúdo organizado por Renato Cividini Matthiesen em 2022 do livro Sistemas de Informações Gerenciais e Operacionais: tecnologias da informação e as organizações do século XXI, publicado em 2019 por Tadeu Cruz, pela editora Atlas.

Gerenciamento ágil de projetos

Objetivos de Aprendizagem

Introdução

“Nos últimos dez anos, as metodologias ágeis têm surgido pela necessidade de buscar alternativas para os modelos tradicionais de desenvolvimento de projetos”. Sbrocco (2012, p. 18).

Na gerência de projetos de tecnologia da informação há oportunidade de escolher diferentes abordagens para o desenvolvimento e a gestão de projeto na área tecnológica. Diversas são as abordagens e modelos de desenvolvimento, e a escolha de uma determinada abordagem deve levar em consideração a natureza do projeto.

Para projetos preditivos (chamados também de predeterminados), que possuem definições claras de requisitos, escopo, tempo, qualidade, todos muito bem definidos no início do projeto, o uso de modelos clássicos (ou tradicionais) para desenvolvimento de software normalmente é a melhor escolha a ser realizada. Porém, muitos projetos de desenvolvimento de novos produtos ou serviços, principalmente no contexto de inovação e área tecnológica, não apresentam os requisitos definidos e possuem desenvolvimento incremental/iterativo fazendo uso de métodos ágeis, o que os caracterizam como projetos de natureza adaptativa.

O que mais diferencia a abordagem preditiva, chamada também tradicional (cascata) de uma metodologia ágil não é o fato se haverá alterações no produto/serviço durante o seu ciclo de vida, mas sim o volume destas alterações e o momento em que são definidas. As metodologias tradicionais também estão abertas a alterações durante o desenvolvimento do sistema, mas estas alterações são realizadas de forma mais controlada. Já nas abordagens adaptativas, chamadas de ágeis, há uma maior abertura para estas mudanças, levando o projeto a constantes alterações de forma mais natural, e revistando os requisitos do sistema que está sendo projetado.

As metodologias preditivas para gestão de projetos são baseadas em rígidos contratos de prestação de serviço, com definições bem estruturadas do projeto, que de certa maneira restringem as alterações do produto no decorrer do ciclo de vida do projeto. Já as metodologias ágeis utilizam contratos com flexibilidade prevista devido às alterações necessárias do projeto, ou ainda não utilizam estes tipos de contratos, pois este preceito fere a conceituação da metodologia prevista no Manifesto Ágil, que coloca as mudanças como “bem-vindas”. 

Coutinho (2019) sustenta que a estratégia ágil para desenvolvimento de sistemas de software é vista como uma abordagem adaptativa compatível com mercados dinâmicos da atualidade, o que leva o ágil a maior adaptação a gestão de produtos e serviços em mercados em constante mutação, com dinâmicas de revisão de produtos e serviços e intensidade de inovações, principalmente baseado em tecnologias.

Mas ainda há a utilização de sistemas preditivos, que por maior robustez e complexidade de integração entre sistemas legados e os sistemas em desenvolvimento buscam definições mais completas já no início do projeto de software. 

Ao abordar projetos de software ou de produtos de tecnologia da informação, é necessário relembrar de sua natureza defendida por Sommerville (2018) e Pressman e Maxim (2021) como mutável. Sempre deverá haver uma discussão interessante sobre as alterações e evolução do projeto. Reiteramos que a abordagem tradicional em cascata (preditiva), não descarta mudanças no projeto, o que vem sendo constantemente comentado e defendido já em versões diversas do PMBOK via PMI (2021). Assim como abordagens ágeis podem ter definições mais concretas no início do projeto, e os rituais de revisão e iteração seguirem com naturalidade o ciclo de vida do projeto.

As metodologias ágeis na gestão de projetos de tecnologia da informação vêm ganhando força nos últimos anos considerando toda uma complexidade dos projetos de sistemas. Os métodos ágeis então permitem entregas incrementais, adaptação no projeto e forte iteração coma integração do cliente e equipe de projeto e cooperação. No contexto dos métodos ágeis disponíveis no mercado e já com razoável maturidade temos o Lean, o Scrum, o eXtreme Programming dentre outras, aliados a modelos e técnicas de operacionalização dos projetos como o Lean e o Kanban

Pois bem, caro leitor, veja que Cruz (2019) nos lembra que um gerente de informática, outros profissionais envolvidos com a área e até o CIO (Chief Information Office) precisa ter conhecimento destas abordagens de desenvolvimento de projetos para poder conduzir os projetos e as equipes a entrega de valor aos clientes.

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As metodologias ágeis se baseiam em quatro princípios definidos no Manifesto Ágil em linha com Sutherland e Sutherland (2019). São eles:

  • Indivíduos e iterações são mais importantes do que processos e ferramentas.
  • Software funcionando é mais importante que documentação completa.
  • Colaboração com o cliente é mais importante que negociação de contratos. 
  • Adaptação a mudanças é mais importante que seguir o plano inicial. 

Figura 6 – Manifesto Ágil

Fonte: Shutterstock

Framework Scrum

A metodologia Scrum foi influenciada pela filosofia Lean que considerava a produção enxuta (termo traduzido do lean). Esta metodologia utiliza-se de times multifuncionais, auto-organizados e empoderados, que dividem o trabalho do projeto em ciclos curtos e concentrados em objetivos direcionados chamados de Sprints.  A origem de seu nome remonta a posição dos jogadores de um time de Rúgbi, referente ao reinício de uma jogada onde os jogadores se juntam e se empurram com o objetivo de ganhar a posse da bola.

A metodologia Scrum foi desenvolvida para ser aplicada em gestão de projetos de software em princípio, onde os requisitos do sistema não eram identificados logo no início do projeto.

O Scrum permite que decisões sejam tomadas ao longo do processo de desenvolvimento do projeto através da implementação incremental da solução com o desenvolvimento de ciclos curtos de desenvolvimento acompanhados por constantes feedbacks. Veja, que de acordo com SCRUMstudy (2016, p. 21) o Scrum “é uma metodologia de adaptação, interatividade, rapidez, flexibilidade e eficiência, projetada para fornecer um valor significativo de forma rápida durante todo o projeto”. O Scrum garante a transparência na comunicação e cria um ambiente de responsabilidade coletiva e também um processo contínuo. Paula Filho (2019) reitera que o Scrum é um método que se tornou popular no brasil e tem foco em pessoas, utiliza uma documentação mínima, um processo interativo, equipes auto-organizadas, e alto envolvimento do cliente durante o projeto.

Esta metodologia é usada em projetos complexos e adaptáveis para entrega de produtos de software de forma criativa, iterativa e incremental, realizados através de ciclos de gestão e atividades chamadas de Sprints. Estes ciclos curtos são chamados de Sprints e se baseiam em três pilares: Transparência, Adaptação e Inspeção.

Figura 7 – Pilares do Scrum

Fonte: elaborado pelo autor.

A metodologia Scrum busca gerenciar projetos adaptáveis com resultados rápidos, eficientes, flexíveis e com processos interativos. A estrutura da metodologia utilizada para esta interação é o Sprint. Esta estrutura de gestão é um elemento Time boxed (restrição de tempo) para garantir que os membros do Scrum desenvolvam as atividades de desenvolvimento dentro de períodos planejados. Cada Sprint pode ser considerado com um subprojeto com período de tempo limitado a um mês de duração. Sutherland e Sutherland (2019, p. 79), criadores da metodologia consideram que  “o tempo é o maior limitador dos projetos humanos". Veja a figura 8 com a representação do Sprint dentro do Scrum.

Figura 8 – Processos no Scrum

Fonte: Shutterstock

Um Sprint representa um retrato do fluxo de atividades definidas no Scrum. Ele é formado por cerimônias (ou rituais), artefatos e papéis dentro das etapas do processo de desenvolvimento do projeto.

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Cerimônias

Sprint Planning: reunião realizada para início de um Sprint para criar o Sprint Backlog.

Daily Scrum: ritual com uma reunião diária para planejamento das atividades no desenvolvimento dos sistemas a serem realizadas no dia seguinte.

Sprint Review: ritual com análise dos entregáveis e apresentação ao dono do produto.

Sprint Retrospective Meeting: ritual realizado para analisar e ajustar problemas encontrados pelo time após os Sprint Reviews e antes do próximo Sprint.

Artefatos

Product Backlog: repositório com a listagem ordenada das funcionalidades e requisitos do sistema necessários para desenvolvimento do produto.

Sprint Backlog: repositório de informações com o conjunto de itens decorrentes do Product Backlog selecionados para um determinado Sprint.

Impediment Backlog: informações com a listagem sobre os implementos ou obstáculos que podem reduzir a produtividade do trabalho.

Burndown Chart: um mapa ou painel utilizado para fazer o acompanhamento do esforço do Sprint, exemplificado pelo Scrumboard (formato de Kanban).

Papéis

Product Owner: representa a voz do cliente e coordena as necessidades do cliente. Trata-se de um profissional especializado em tecnologia da informação e gestão de projetos que coordena as necessidades do cliente e maximiza o valor do negócio no projeto. 

Scrum Master: profissional que atua como facilitador para tornar o ambiente de trabalho adequado ao time. Tem como função ensinar práticas do Scrum para os envolvidos no projeto, assegurar que os processos sejam seguidos e minimizar ou eliminar impedimentos. 

Time Scrum: grupo de profissionais de tecnologia da informação responsáveis por criar as Estórias (requisitos de um projeto em modelo ágil) e que efetivamente irá desenvolver as entregas do projeto (entregáveis). 

Scrum Guidance Body: posição opcional formada por especialistas em definição de objetivos de qualidade, regulamentação, custos e riscos. 

Em resumo

Nesta aula, vimos que as metodologias ágeis na gestão de projetos de tecnologia da informação vêm ganhando força nos últimos anos considerando toda uma complexidade dos projetos de sistemas. Os métodos ágeis então permitem entregas incrementais, adaptação no projeto e forte iteração com a integração do cliente e equipe de projeto e cooperação. No contexto dos métodos ágeis disponíveis no mercado e já com razoável maturidade temos o Lean, o Scrum, o eXtreme Programming dentre outras, aliados a modelos e técnicas de operacionalização dos projetos como o Lean e o Kanban. Verificamos que as metodologias ágeis se baseiam em quatro princípios definidos no Manifesto Ágil: Indivíduos e iterações são mais importantes do que processos e ferramentas, Software funcionando é mais importante que documentação completa, Colaboração com o cliente é mais importante que negociação de contratos e Adaptação a mudanças é mais importante que seguir o plano inicial.

na ponta da língua

Referências
Bibliográficas

Coutinho, Heitor. (2019). Da estratégia ágil aos resultados. São Paulo: Saraiva.

Cruz, Tadeu. (2019). Sistemas de Informações Gerenciais & Operacionais: tecnologias da informação e as organizações do século XXI. 5. ed. São Paulo: Atlas.

Paula Filho, Wilson de Pádua. (2019). Engenharia de Software, v. 1: produtos. 4. ed. Rio de Janeiro, RJ: LTC.

PMI – PROJECT MANAGEMENT INSTITUTE. (2021). Guia PMBOK®: Um Guia para o Conjunto de Conhecimentos em Gerenciamento de Projetos. 7. ed. Pennsylvania: PMI.

Pressman, R. S.; Maxim, B. R. (2021). Engenharia de software: uma abordagem profissional, 9. Ed. Porto Alegre: AMGH.

Ries, Eric. (2019). A startup enxuta: como usar a inovação contínua para criar negócios radicalmente bem-sucedidos. Rio de Janeiro: Sextante.

Sbrocco, Jose. H. T. C.; Macedo, Paulo C. de. (2012). Metodologias ágeis: Engenharia de Software sob medida. São Paulo: Érica.

Scrumstudy. (2016). Guia SBOK: Guia para o Conhecimento em Scrum, Arizona, EUA: SCRUMstudy.

Sommerville, Ian. (2018). Engenharia de Software, 10 ed. Pearson. Ebook Pearson.

Sutherland, Jeff; Sutherland, J. J. (2019). Scrum: a arte de fazer o dobro do trabalho na metade do tempo. Rio de Janeiro: Sextante.

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Gerenciamento ágil de projetos

Imagens: Shutterstock

Livro de Referência:

Sistemas de Informações Gerenciais e Operacionais - Tecnologias da Informação e as Organizações do Século 21

Tadeu Cruz

Atlas, 2019

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